Videoclipe de “Guardians of Earth” mostra destruição da maior floresta tropical da Terra
Por Rafael Bitencourt/É Rock
Expressão que é, muitas vezes, incentivada quando são tratados os desafios e as possíveis soluções ambientais, o “pensar globalmente, agir localmente” é a prática usada por uma das maiores bandas de metal do mundo ao defender a Amazônia e seu território de origem. No videoclipe de “Guardians of Earth”, o Sepultura volta os olhos para o importante e vital bioma, que padece com queimadas históricas.
Referência mundial no thrash metal, os brasileiros que já transitaram por temáticas indígenas, mais uma vez evidenciam os nativos do continente americano, agora como protagonistas do mais novo material audiovisual, que roda o mundo – tal qual o Sepultura faz desde os anos 80 – com o apelo daqueles que, como ninguém, conhecem a maior floresta tropical do planeta.
A relação entre o Sepultura e os povos indígenas não é algo novo. Da homenagem à tribo homônima à canção “Kaiowas”, presente em Chaos A.D. (1993) à faixa “Itsári”, que compõe Roots (1996) e gravada um ano antes a partir da visita do quarteto de metal (do qual, à época, ainda faziam parte os irmãos Cavalera) aos Xavantes, o inevitável choque cultural, gerou uma sinergia que, inclusive, ajudou a levar a cultura e a sonoridade indígena a diferentes partes do mundo.
DESRESPEITO E NEGACIONISMO – A estratégia de dar visibilidade à cultura local se repete em 2020, embora, impulsionada por uma tragédia ambiental. As imagens das queimadas na Amazônia em tempos de pandemia geram revolta, especialmente por acontecerem sob um governo que enxerga a preservação como inimiga do desenvolvimento.
Com isso, há desrespeito às normas ambientais e um negacionismo que, de tão recorrente, chega a ser visto como política de um Estado que “passa a boiada” sobre as urgentes questões ambientais. “Desejos egoístas”, como crava a primeira estrofe de “Guardians of Earth”.
“Nossa terra, nossa salvação”, brada, em outro trecho, o norte-americano Derrick Green (na banda desde 1998 e praticamente brasileiro – além de palmeirense), companheiro de Andreas Kisser (guitarra), Paulo Xisto (baixo) e Eloy Casagrande (bateria). Aos destruirmos nossas reservas naturais, o recado presente na letra é claro: “Não há lugar para se esconder”, tampouco há “uma segunda chance”.
O apelo é claro. “A Amazônia é nossa vida e nossa terra natal”, ilustra o cartaz segurado por um casal indígena no material audiovisual. “Nossa farmácia”, “nosso templo”, “nossa escola”, “nosso ar”, são os dizeres de outros nativos por meio de cartazes. Após o registro de animais que compõem a rica biodiversidade amazônica e performances dos membros do grupo, o videoclipe termina com a desoladora imagem da mata em chamas.
CALDO DE CULTURA – Em tempo: a canção “Guardians of Earth” compõe o ótimo Quadra, lançado pelo Sepultura no início de 2020. O álbum é dividido em quatro partes, cada uma com três faixas, um conceito baseado no Quadrivium, que, em latim, significa “quatro caminhos”. O material refere-se ainda ao fato de virmos de diferentes quadras – países com suas tradições, crenças e culturas.
No livro “Educação Ambiental” (Editora Senac), Fabio Cascino afirma que, é no “caldo de cultura” formado no fim dos anos 1960 pela convergência entre movimentos como o rock, o hippie, lutas feministas, dos negros e dos homossexuais e por um planeta “mais azul” e mais pacífico que surge o ambientalismo.
O rock tem, sim, sua parcela de importância na luta por um mundo mais equânime e sustentável! E, para salvar o nosso futuro, a saída é a inspiração nos versos finais de “Guardians of Earth”: “Nunca desista, lute até o fim”!