SÃO PAULO – SP
Tudo começou como um projeto escolar. Adolescentes que, entre tantas outras formas, decidiram se expressar por meio da música. Ninguém sabia no que isso ia dar, ou aonde poderiam chegar. E, assim, despretensiosamente, a banda paulistana SSD – sigla de Sistema Sob Descontrole – fez seu caminho pelas turbulentas correntezas da cena alternativa, desaguando em 12 anos de estrada, com um currículo que conta com inúmeros shows nas casas mais badaladas de São Paulo, participação em diversos festivais e um número considerável de prêmios. A banda já dividiu palco com nomes como Gloria, Rancore e Ratos de Porão, e concluiu, recentemente, seu primeiro trabalho de estúdio.
Após diversas mudanças de nome e a entrada e saída de vários integrantes, a banda paulistana conta, hoje, com Renan Ricci (vocal), Caio Maior (guitarra), Maurilio Vizin (baixo) e Henrique Polak (bateria).
Sinceramente, já não há mais nada de novo ou ousado em fazer música pesada nos dias atuais. Basta saber tocar para que os entusiastas dos infinitos gêneros musicais que levam a palavra “metal” como parte do nome sejam facilmente atraídos pelo peso inebriante das guitarras, pela bateria desenfreada e pelo baixo pulsante. Na mesma linha, centenas de bandas surgem todos os anos, especialmente, na capital paulista, centro fervilhante da música alternativa e independente. No entanto, enquanto a maioria das bandas que contam com integrantes tão jovens prefere recorrer a covers e versões de músicas já conceituadas, SSD apostou, logo de cara, em músicas autorais, acumulando, ao longo dos anos de caminhada, um singelo legado de canções que mesclam o pesado e o melódico, tanto em música quanto em letra. No entanto, esse ainda não é o principal diferencial.
A segunda década do novo milênio tem sido um marco histórico no que diz respeito à discussão de assuntos de cunho social há muito esquecidos (lê-se ignorados). Com tais tópicos em voga, fica difícil saber quem diz a verdade e quem está apenas deixando-se levar pela nova onda. Nisso, não há dúvidas: SSD transborda sinceridade.
Enquanto a cozinha dá tudo de si, doando energia e personalidade para que a mágica aconteça, a guitarra sabe dosar seu peso quando entra em cena, valorizando o momento sem a necessidade de roubar toda a atenção para si. A voz, sendo o instrumento mais delicado e espontâneo, dispara as letras carregada de emoção e sinceridade.
O desfrute do som transcende a audição. Sente-se a música e, acima disso, sente-se a mensagem, passada de maneira clara e simples, sem o apelo desesperado do pedantismo, ou o medo que se esconde atrás dos eufemismos.
As letras da SSD abordam, com inocência e honestidade, assuntos muito vistos na televisão e lidos na internet, porém, pouco discutidos no cotidiano, abrindo uma oportunidade de analisá-los com pensamento crítico, o que é de extrema importância, especialmente, tratando-se do público deste gênero, que tende a ser massivamente jovem.
Foram escolhidas 7 faixas para fazer parte de Nova Era, primeiro EP da banda. A escolha foi minuciosa. “Intro” abre o trabalho, revelando um pouco do que se segue. A segunda faixa, que dá título ao EP, fala, com a delicadeza necessária, sobre abuso sexual, contendo notas da experiência pessoal vivida pelo vocalista da banda. Inclusive, o videoclipe – já disponível no canal da banda – conta com o depoimento de Ricci sobre o acontecido, dando conforto e o sentimento de compreensão a todos que já passaram por situação similar. Já “Retratos da Realidade” busca provocar uma reflexão sobre a alienação crescente da era digital. O EP segue com “Belas Faces”, que fala sobre a deterioração provocada pela falsidade, “O Antigo e O Moderno”, que segue num ritmo mais tranquilo e harmonioso, versando sobre o amadurecimento e a transformação que nascem das experiências mais degradantes, e “Arte Sufocada”, onde Ricci compartilha o sentimento de libertação ao romper limites pessoais. “O Meu Silêncio”, que conta com a participação especial de Teco Martins, da banda Rancore, encerra o trabalho, com uma reflexão intimista sobre aqueles pensamentos que sempre acabam na gaveta do inconsciente.
Mas não adianta somente falar de música. Música foi feita para ouvir. O som da SSD já está disponível em diversas plataformas de streaming, e os videoclipes, no canal do Youtube.
Contribua para o crescimento da cena independente. Conheça, ouça e marque presença nos shows. Acompanhemos a SSD, pois este é só o início.